‘Programa de Formação em Humanidades Digitais’ da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
By Celeste Pedro
O panorama das Humanidades Digitais em Portugal centra-se maioritariamente no desenvolvimento de projetos financiados de investigação e desenvolvimento. Em termos de formação, há apenas algumas ofertas ao nível de mestrado, poucas unidades curriculares nas licenciaturas, e alguns ocasionais workshops e cursos breves, iniciativas geralmente associadas a Laboratórios ou Grupos de Investigação, como na Universidade de Coimbra, ou na Universidade de Évora. Em Lisboa existe o Mestrado em Curadoria e Humanidades Digitais da NOVA FCSH e FCT NOVA, e no norte do país, o Mestrado em Humanidades Digitais da Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas da Universidade do Minho. Na Universidade do Porto surgiu este ano letivo (2023/24) um curso de formação contínua que procura colmatar esta falta de oferta formativa e melhorar o acesso dos estudantes a novos recursos digitais. Agora que a primeira edição do Programa de formação em Humanidades Digitais se encontra na reta final, a IPM entrevistou três alunas que partilharam como foi passar por esta experiência formativa, para tentar perceber o que procuram os alunos dentro desta grande área do conhecimento.
A IPM entrevistou três alunas do programa.
As entrevistadas
A Ana é doutoranda e bolseira em História da Arte na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), a Sandra é tradutora freelance e a Catarina é investigadora no Centro de Inovação em Educação (InED) do Instituto Politécnico do Porto.
A Entrevista
Celeste: Quando e como é que ouviram o termo Humanidades Digitais?
Catarina: A primeira vez que ouvi falar na expressão exacta de ‘humanidades digitais’ foi quando encontrei este curso online. Procurava cursos não conferentes de grau no ensino superior do Porto e especificamente na área das Humanidades. Quando encontrei o nome do curso tive de analisar o programa e os objectivos para perceber a que se propunha e, nesse momento, consegui organizar mentalmente um conjunto de exemplos que já conhecia e que agora se associavam a Humanidades Digitais. Já lera artigos e ouvira falar sobre metodologias de investigação para análise de dados das redes sociais, e sobre semiótica, mas nunca associado a ‘humanidades digitais’. Desde então, tudo faz mais sentido.
Sandra: Foi em conversa com amigos que estavam a desenvolver projectos de investigação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Ana: O primeiro contacto que tive com o termo ‘humanidades digitais’ decorreu durante a preparação do projeto de doutoramento para submissão à FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia). Descobri a existência do CODA/FLUP (Centre for Digital Culture and Innovation), uma unidade funcional focada das Humanidades Digitais e posteriormente recebi informações sobre o Programa de Formação na FLUP.
Celeste: Porque decidiram fazer este curso? Estão ou pensam vir a trabalhar com estes recursos (qual/quais)?
Catarina: Inicialmente, foi porque tinha de fazer um curso não conferente de grau, mas escolhi este para alimentar a minha curiosidade e potencialmente ajudar na área de investigação. Ao longo do curso, percebi que não só iria explorar de forma mais completa a que se propõem as Humanidades Digitais como aumentar o meu conhecimento geral sobre temas que desconhecia por completo. Hoje consigo perceber como funciona a organização dos documentos e recursos com respeito a normas internacionais, tive oportunidade de associar conhecimentos da ética à investigação digital, e finalmente percebi como funciona e quais as mais-valias do repositório de recursos da Universidade do Porto. Tenho vindo a utilizar este último, escrevi um artigo para um blog sobre as tendências da aplicação de ferramentas de inteligência artificial no processo de ensino-aprendizagem, e pretendo avançar no conhecimento sobre metodologias de investigação em Humanidades Digitais.
Sandra: Frequentar um curso de Humanidades Digitais é essencial nos dias de hoje, pois permite o desenvolvimento de competências de interdisciplinaridade entre as humanidades e uma vertente mais técnica, promovendo nas humanidades o uso de ferramentas e tecnologias digitais de visualização e armazenamento, análise de dados e métodos de estudo, por exemplo. Além disso, a aposta nas Humanidades Digitais permite a preservação, disseminação e disponibilização de materiais cujo acesso estaria, de outra forma, muito mais limitado.
Ana: Decidi realizar esta formação para aprender sobre Humanidades Digitais e conseguir aplicar estas metodologias no âmbito do projeto de doutoramento que estou a desenvolver na área dos estudos do Património.
Celeste: E agora que o curso está a acabar, o que pensam sobre as vossas espectativas iniciais e aquilo que realmente aprenderam aqui?
Catarina: As minhas expectativas iniciais eram bastante básicas porque sinceramente não sabia muito bem o que iria aprender, por isso esperava aprender algo novo (o que aconteceu) e aproveitar o tempo (o que foi igualmente alcançado). Tinha expectativas mais específicas quando à unidade de ética e à unidade de metodologias. Aqui estava bastante interessada em compreender os avanços da ética na aplicação da inteligência artificial e ainda pude questionar os docentes sobre dúvidas relativamente à utilização de imagens na investigação. Nas metodologias esperava conhecer passo a passo como aplicar à investigação, mas percebo agora que este será sempre um trabalho multidisciplinar e terei isso em atenção no futuro planeamento de investigações com recurso a estas metodologias. Para além das aprendizagens, conheci pessoas fantásticas que levo comigo com ou sem Humanidades Digitais.
Sandra: O curso permitiu uma introdução sólida a vários temas de interesse. Apesar de não ser exaustivo, foi possível ficar a compreender melhor muitos conceitos e conhecer várias ferramentas e técnicas que irei certamente utilizar no futuro.
Ana: A formação foi muito enriquecedora para contactar com conceitos basilares das Humanidades Digitais. Em particular, a unidade curricular “Descrição e indexação de imagens para investigação em Humanidades” foi de extrema importância. Pretendo continuar a explorar e a aprofundar os meus conhecimentos teóricos e práticos nesta área.
Celeste: Muito obrigada pelo vosso tempo!
Estas foram as cadeiras abertas para o curso de 2023/24: Ética das Humanidades Digitais; Introdução ao TEI – Text Encoding Initiative; Linguística Computacional e Humanidades Digitais; Organização da Informação e do Conhecimento em Humanidades Digitais; Cultura Visual e Intermedialidade; Descrição e Indexação de Imagens para Investigação em Humanidades; Literatura e Humanidades Digitais; e Metodologias Digitais de Investigação para as Humanidades. Espera-se uma segunda edição a acontecer no próximo ano letivo!
Nota: O Curso de Formação Contínua Programa de Formação em Humanidades Digitais é financiado pelos fundos do programa “Next Generation EU” do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), através do “Programa de Formação Multidisciplinar da U.Porto – Impulso Jovens STEAM & Impulso Adultos”.
©️Celeste Pedro | “Programa de Formação em Humanidades Digitais”, IPM Monthly 3/4 (2024).